De onde tirar forças superar a morte de um filho de forma tão trágica? “Oque me sustentou e sustenta até hoje é a força divina”. A frase é de Clerice Baú, mãe de Leticia, que pela primeira vez falou sobre os acontecimentos que ceifaram a vida da sua filha precocemente. Ela explica que o tempo ameniza, mas que mesmo passados 10 anos da maior tragédia da história do Rio Grande do Sul, a dor ainda é latente: “Após ter se passado 10 anos, muitos podem achar que o tempo voou, mas para mim posso dizer que foi um período em que passei por muitos momentos. No dia em que aconteceu a tragédia a sensação era que o mundo tinha acabado. Depois, após ter passado o choque, uma dor imensa em saber que o que tinha acontecido era real e não tinha retorno. Até o dia de hoje a dor da perda me acompanha pois um filho é um pedaço nosso e uma extensão das nossas vidas, e saber que não teria mais ela é uma sensação de um vazio muito grande”, conta Clerice.
Além da perda da filha, Clerice passou por outras provações nestes últimos 10 anos e que buscou o conforto em Deus: “O que me sustentou é sustenta até hoje e a força divina. Olhar para frente e saber que Deus me escolheu para ser mãe de um ser humano especial. Quem conheceu e conviveu com a Letícia sabe que era uma pessoa ímpar cheia de vida, alegre e que queria o bem de todos. Fui abençoada mesmo que na vida terrena por pouco tempo mas no tempo do criador”, resigna-se a mãe de Letícia. Aos pais, Clerice aconselha: “O que tenho a dizer para todos que tem a graça de serem pais, é que devem aproveitar intensamente esta graça divina. Sejam parceiros, sejam alegres, brincalhões e engraçados, pois não sabemos como será o dia de amanhã”.
Após a tragédia da Boate Kiss, houve uma grande mudança com relação a segurança nos locais de entretenimento, como bares, boates, restaurantes e outros locais de grande afluência de público. Não restam dúvidas que a tragédia de Santa Maria poderia ter sido evitadas se as leis da época não fossem tão brandas. Ainda assim, Clerice entende ser necessário que os pais preocupem-se em saber onde seus filhos procuram diversão: “Em relação a sociedade acredito que mesmo não havendo a justiça dos homens, percebo que houve um aprendizado aonde principalmente os pais passaram a se preocupar com os seus filhos. Ficou o alerta que mesmo em lugares que é somente diversão pode haver muito perigo”, alerta.
Passados 10 anos da tragédia, Clerice ainda encontra forças para ter esperança e seguir adiante: “A dor da perda não passará para uma mãe, para um pai, irmãos, familiares e pessoas queridas. Mas temos que aprender que somos passageiros e que Deus é nossa maior fortaleza. Ele sempre nos dará recompensas e devemos nos fortalecer e nos apoiar com isso. Um abraço no coração de todos tocados por este momento!”, finaliza.