Uma oportunidade para refletir…
Na noite anterior da fatídica data, como de costume falei para o pessoal de casa que iria dormir cedo, tem sido assim nos últimos tempos, na verdade tem sido assim desde sempre…
Dormir cedo para acordar mais cedo ainda, afinal aprendi de berço que é trabalhando duro que se chega longe… Não precisei de muito tempo para que o sono viesse, ao fechar os olhos pareceu-me ter visto um vulto entrando pela janela, liguei a lanterna do celular, clareei e nada vi, desliguei e fechei os olhos novamente, foi quando ouvi um sussurrar no meu ouvido dizendo: -Amanhã você vai morrer, é teu último dia de vida então aproveite pois estamos lhe dando um “presente”, uma oportunidade para poucos!!!
Óbvio que não levei muito a sério, pensei estar ficando louco!!!. Acordei cedo, às quatro horas da manhã e com os olhos arregalados fiquei a pensar se aquilo fora verdade, afinal eu não estava sonhando e nem estava louco…Aquela sensação de partida tomou conta de mim, um vazio imenso, um silêncio ensurdecedor, poxa vida eu não poderia morrer agora!
“Que droga” , resmunguei, tenho tantas coisas que não fiz, lugares que não conheci, vida que não vivi por estar sempre correndo contra a máquina…
“Mas enfim, se for mesmo meu último dia vou aproveitar…”, pensei eu!Quando meu filho acordou eu ainda estava em casa, tomando meu “mate”, ele estranhou minha presença ainda em casa, afinal eu sempre saia para o serviço muito antes do sol nascer…Mas ele estranhou mesmo quando o convidei para “pescar”, e me respondeu : “pai , não podemos , é dia de semana e temos que trabalhar tchê, e outra né pai, fazem anos que não pescamos juntos…”
Aquilo me cortou a alma e doeu por dentro , como 1000 lâminas na minha pele.
Ele saiu para trabalhar e eu fiquei ali, estático no sofá da sala, logo minha esposa acordou e ao chegar ali logo perguntou-me se eu não estava bem, disfarcei minha preocupação e falei que tinha ganho folga nesse dia, e de cara já a convidei para que ficasse em casa comigo, falei que poderíamos almoçar fora, só nós dois, ela sorriu , nitidamente surpresa com o convite e feliz , mas sua resposta não poderia ter sido mais certeira: “amor, tenho que trabalhar, tu sabe, mas amei o convite pois já fazem anos que não saímos só nós dois para um programa romântico…”
Meu Deus , oque fiz da minha vida, pensei, agora estou morrendo, no meu último dia de vida e já não há mais tempo para nada…
Enfim minha princesinha acordou, surpresa com minha presença, e para não deixá-la preocupada fui logo falando: “estou de folga minha filha e vamos fazer nosso dia ser especial, só eu e você…” Mesmo surpresa ela gostou, coloquei a mesa do café enquanto ela preparou “torradas”, após o café da manhã, falamos sobre tudo, oque ela queria ser, sobre suas dúvidas e medos, sobre seus sonhos e angústias…
Fiquei pensando “meu Deus eu não vi meus filhos crescerem”, aquilo foi me doendo fundo na alma, mas eu não podia contar o que estava acontecendo, então resolvi viver aquele dia em cada segundo. Assistimos filme, levamos nosso cachorro na praça correr, nem me dei o trabalho de pegar o celular um segundo sequer.
Quando o fim do dia veio e os outros chegaram ,a gente havia se divertido muito, aí fizemos pipoca, chimarrão e todos juntos assistimos um filme, sinceramente não lembro qual foi, mas a felicidade nos olhos de cada um deles, as pessoas mais importantes da minha vida, serviu de consolo para mim, tive, mesmo que tarde demais , uma provinha da felicidade verdadeira e entendi que só não fui feliz todos os dias porque eu não quis, me preocupando com coisas que custavam dinheiro mas não tinham valor algum…
Tarde da noite, todos foram dormir e resolvi encarar a realidade: estava a poucos minutos do meu fim, e o mistério do “pós vida” me aguardava.
Orei para Deus, pedi perdão de minhas falhas e implorei que cuidasse de minha família , fechei os olhos e apaguei…
Pois é, as 5 horas da manhã acordei, me apalpei, abri os olhos surpreso, minha linda esposa dormia serenamente na cama, eu estava ali, ainda vivo e sem nada entender, será que estava louco mesmo, será que sonhei com aquilo tudo???
Não, a prova “cabal” que tudo foi real veio ao abrir a janela do quarto e olhar na sacada, um bilhete amassado que ao abrir estava escrito: Viva meu filho, resolvi te dar um segunda chance!!!
Ao terminar de ler , aquele pedaço de papel que mais parecia uma “seda” se desfez em um milhão de pedaços bem nos meus olhos…Não consegui segurar as lágrimas, chorei de soluçar, um misto de alegria e gratidão que recém hoje consigo narrar!!!!
OBS: Este conto é fictício, não sei realmente se teremos um dia “BIS”, uma segunda chance, então te pergunto: Já não está na hora de viver de verdade e dar o devido valor para as coisas que realmente importam???
REFLITA…
