O hábito de leitura não faz parte da vida de 48,3% da população gaúcha com 16 anos ou mais. A conclusão é de levantamento realizado pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) e divulgada pelo Instituto Estadual do Livro (IEL), vinculado à Secretaria da Cultura (Sedac) do Rio Grande do Sul. A iniciativa partiu da rede Vanguarda de Livrarias, de Pelotas (Região Sul).
“Essas pessoas não costumam ler, seja na forma impressa ou digital”, destaca a diretora do IPO, Elis Radmann. “Esse indicador segue uma tendência nacional, pois 48% dos brasileiros declaram não ter relação de proximidade com qualquer tipo de literatura.”
E se tal comportamento vale para Porto Alegre, o mesmo não se pode dizer da região da Fronteira-Oeste: em cidades como Uruguaiana, São Borja e Santana do Livramento, onde a população demonstra maior apreço pelos livros – o índice é de 65,2%.
“Mais de 30% dos brasileiros nunca leram um livro”, acrescenta a diretora da Vanguarda, Bety Lovatel. Para ela, que é sócia de uma empresa do segmento, a informação assustou. Ela procurou, então, o Instituto Pesquisas de Opinião para investigar a realidade específica do Estado, dando origem à pesquisa.
De 24 a 28 de maio, o IPO realizou mil entrevistas com pessoas a partir dos 16 anos em 52 cidades gaúchas representativos de oito regiões do Estado. A base são dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, levando-se em conta gênero, idade e situação de trabalho.
Dentre os entrevistados, pouco mais da metade (51,7%) declararam ter hábito de ler livros, um percentual inferior ao do Brasil, de 52% (Instituto Pró-livro, 2019). O Rio Grande do Sul, porém, apresenta média superior de livros lidos por ano: 7,6, contra 2,5 da média nacional.
Questão social e econômica
Educação formal e renda familiar estão intimamente associadas ao hábito de leitura. Quanto menor a escolaridade e renda, menor o envolvimento com o mundo da leitura. Para se ter uma ideia, a média geral de gaúchos que leem é de 51,7%, a média de leitura de quem tem ensino fundamental é de 37%, a de quem tem ensino médio é de 52,8% e a de quem tem ensino superior é de 74,3%.
O mesmo fenômeno ocorre na relação entre o hábito de leitura e a renda familiar: dentre os que têm renda de um a dois salários-mínimos, o hábito de leitura é de 45,9%; nos que têm renda de três a cinco salários-mínimos, é de 55,8%; e acima de seis salários-mínimos, é de 72,2%.
Assim como o hábito varia conforme a classe social, o tipo de leitura também muda: quanto menor a renda familiar, maior a relação com livros de religião ou espiritualidade e autoajuda.
O distanciamento social da pandemia motivou a leitura entre pessoas com renda de um a dois salários-mínimos, que tinham acesso reduzido à internet e estavam saturadas com a programação da televisão aberta.
Conforme aumenta a renda, amplia-se o interesse por livros técnicos. As pessoas de famílias com três a cinco salários-mínimos sonham com a mobilidade social, buscam na literatura a possibilidade de adquirir mais conhecimento e cultura.
E as famílias com renda acima de seis-salários mínimos mostram mais apreço por literatura eclética, acompanhando os lançamentos. Suas escolhas inspiram momentos de entretenimento e lazer ou estão associadas à atualização profissional.
O segundo passo, após a conclusão da pesquisa, foi pedir apoio da Incomum, agência de comunicação estratégica, também de Pelotas. “Assim surgiu a campanha Uma Página por Dia – Devagar se lê o mundo, conta Bety Lovatel.
“Todos sabem o que a leitura é capaz de propiciar, mas a falta do hábito é sempre justificada com uma desculpa como ‘não tenho tempo’, ‘livro é caro’ ou, no caso dos mais sinceros, ‘preciso deixar de ser preguiçoso’”, comenta.
O grupo está em busca de parceiros para apoiarem suas ideias de ações e de estratégias de divulgação, da mesma forma que se coloca à disposição para ajudar empresas e instituições a colocarem em prática ações internas e externas de estímulo ao hábito de ler.
Fonte: O Sul