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Jovem de 20 anos morta pelo ex-namorado tentava retomar a vida após fim do relacionamento

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moça

No fim da tarde do último domingo (30), Maila Aparecida Wagner, 20 anos, saiu da residência onde vivia com os pais, em Estrela Velha, no V­ale do Rio Pardo, para encontrar amigos. Despediu-se,  como de costume, com um “até mais”, pois pretendia voltar para casa logo. Cerca de duas horas depois, o pai, Cláudio Rogério Wagner, 48, recebeu um telefonema pedindo que ele seguisse para Salto do Jacuí, município vizinho. O temor da família havia se concretizado: a jovem tinha sido morta a tiros. O ex-namorado, Juarez Júnior Ramos da Silva, 24 anos, contra quem ela tinha medida protetiva, tirou a própria vida após o crime. Ele já havia sido preso em setembro por descumprir a medida, mas foi solto dois dias depois.

Natural de Estrela Velha, município de 3,6 mil habitantes, Maila era a mais velha das três filhas de Cláudio e Marisane Wagner, 39 anos. A jovem, que pretendia concluir o curso de Ciências Contábeis no próximo ano, voltou a morar com os pais em maio, depois de romper o relacionamento com o namorado. Os dois mantiveram uma relação por pouco mais de dois anos. Maila conheceu Júnior, morador de Jacuizinho, em fevereiro de 2020. Cerca de três meses depois, os dois foram morar em Encruzilhada do Sul, pois ele havia conseguido um emprego na cidade. O casal residiu também por um tempo em Boa Vista do Cadeado, e mais tarde, em abril de 2021, regressou para Jacuizinho, município que fica a cerca de 25 quilômetros de Estrela Velha.

Com a proximidade, os familiares passaram a se visitar todos os fins de semana. Foi nesse período que os pais começaram a perceber que havia algo estranho com Maila, que parecia mais quieta do que o habitual.

— Ela estava diferente. Tinha alguma coisa que não estava certa — recorda o pai.

A jovem ainda se empregou como estagiária na prefeitura de Jacuizinho por pouco mais de um mês. Mas, repentinamente, procurou os pais e disse que não queria mais viver com o namorado e precisava de ajuda. A família lhe ajudou a buscar os pertences e Maila voltou a morar em Estrela Velha.

— Aí começaram as ameaças, por telefone, WhatsApp. Ele tinha aquela obsessão por ela, uma coisa doentia. Onde ela estava, ele passava, ficava cuidando — relata o pai.

Quando soube o que estava acontecendo, Cláudio decidiu intervir e passou a conversar com Júnior por telefone. Como conhecia o rapaz, pensou que isso poderia resolver.

— Pedi que deixasse ela em paz, que ela não queria mais viver com ele. Pedi várias vezes, foram muitas mensagens. E ele matou minha menina — diz.

Mesmo com os apelos do pai, as ameaças evoluíram para a agressão. Em 2 de julho, Maila estava num evento da cidade, acompanhada de outro rapaz. Lá, segundo o pai, enquanto dançava, foi agredida com um soco pelo ex. A jovem regressou para casa e só relatou o que havia acontecido no dia seguinte. Foi quando o pai decidiu procurar ajuda da Brigada Militar. Foi orientado a registrar ocorrência, para tentar evitar que a situação evoluísse para algo mais grave.

Maila procurou a Polícia Civil informando que o ex-namorado, inconformado com o fim do relacionamento, estava lhe perseguindo, perturbando e fazendo ameaças. O ex teria dito que se ela “não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém”. Em razão desses relatos, a polícia pediu medidas protetivas e o Judiciário determinou que Júnior não poderia se aproximar da jovem. Mas isso voltou a acontecer.

SUSPEITO CHEGOU A SER PRESO, MAS FOI SOLTO

Em setembro, a jovem estava trabalhando na casa de uma família, quando avistou o ex dentro de um veículo no portão, com uma arma de fogo na mão. Maila conseguiu se esconder, e procurou novamente a polícia. No mesmo dia, a delegada Graciela Foresti Chagas, de Arroio do Tigre, pediu a prisão preventiva do suspeito. No pedido, alertou para o risco que corria a vítima, por ter sido ameaçada com arma e pelo fato de o ex não respeitar as ordens judiciais. No mesmo documento, a policial ressaltou: “Medidas alternativas à prisão não serão suficientes para cessar o risco que ele oferece”.

O pedido de prisão foi encaminhado ao Judiciário em 8 de setembro de 2022. A solicitação foi atendida, e em 15 de setembro Júnior foi preso, após se apresentar na delegacia, acompanhado de advogado. Naquele mesmo dia, foi encaminhado ao Presídio Estadual de Sobradinho. No entanto, dois dias depois, foi solto por nova decisão judicial, que revogou a prisão. GZH entrou em contato com o Tribunal de Justiça para saber o que motivou a soltura e aguarda retorno.

Ainda segundo a delegada, a polícia chegou a cumprir mandado de busca na residência de Júnior, à procura da arma que Maila havia descrito. No entanto, naquele momento, nada foi encontrado.

CRIME

Depois do episódio da prisão do ex, Maila chegou a acreditar que a situação tinha se resolvido. A jovem não recebeu mais tentativas de contato. No dia 10 de outubro, ela ingressou num novo emprego, numa empresa da cidade, com o qual estava animada.

— O sonho dela era se formar e trabalhar na contabilidade de uma empresa. Era muito responsável com o trabalho, dedicada. Nesses dois anos, mesmo com tudo isso, nunca deixou de estudar — recorda Cláudio.

Por mais de uma vez, os pais chegaram a alertar a filha porque temiam que algo pudesse lhe acontecer, mas a jovem respondia que o ex não queria que se aproximassem dela, mas não acreditava que ele faria alguma coisa contra ela. No último domingo,  Maila encontrou uma amiga, e decidiram dar uma volta de carro até uma cidade próxima. Aquela foi a última vez que o pai viu a filha, vaidosa, arrumar-se antes de sair de casa. A ideia inicial das amigas era ir até Sobradinho, mas decidiram seguir até Salto do Jacuí, a 11 quilômetros de Estrela Velha. A jovem estava na calçada, com amigos, quando o ex se aproximou, segundo a polícia.

— Ele saca a arma, vai na direção dela e efetua três disparos: no rosto, no pescoço e no abdômen. E logo em seguida, volta de onde veio, dobra a esquina, e estão descendo parentes dele. Isso porque ele tinha dito que iria fazer uma bobagem. Logo em seguida, ele se dá um tiro no peito — narra o delegado Dieison Novroth, de Salto do Jacuí.

Cláudio, que é motorista da Secretaria de Saúde, estava trabalhando quando recebeu o telefonema de uma colega, pedindo para que fosse às pressas até Salto do Jacuí. Ao chegar ao local, antes mesmo de deparar com a cena, ele sabia o que havia acontecido.

— O Júnior matou minha filha — sentenciou, antes de a colega confirmar.

— É duro isso. Minha menina estava ali, na calçada. Era uma menina de 20 anos. Tão tranquila. Nunca se envolveu com nada errado, não tinha inimizades. Para nós, sobra isso, essa dor — diz o pai.

INVESTIGAÇÃO

Uma pistola de calibre 9 milímetros, com a numeração raspada, foi apreendida pela polícia, que apura a origem dessa arma. Para o delegado, o crime foi motivado pelo fato de o ex não aceitar o término. Embora Maila tivesse medida protetiva ainda vigente, o policial ressalta que essa não é a realidade da maioria das vítimas de feminicídio.

— Na maioria dos casos que acabam numa situação tão drástica, como o feminicídio, as mulheres não registram ocorrência antes. Quando registram, em regra, ou eles (agressores) vêem que a lei existe, que há proteção, e de fato cumprem a determinação, ou descumprem, vão presos, e isso resolve. A maioria dos feminicídios ocorre quando a mulher nunca registra, está naquele ciclo de violência, onde há a violência, ela perdoa, volta e há violência de novo. Nesse caso específico, foi uma exceção, ela tinha medida protetiva, ele chegou a ser preso e, mesmo assim, não foi suficiente — afirma o delegado Novroth.

A polícia ainda pretende ouvir testemunhas e aguarda resultado de perícias para concluir a investigação do caso, que é tratado como feminicídio seguido de suicídio.

Fonte: Gaúcha ZH

 

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