Músicos tucunduvenses celebram mais um reencontro da Banda Os Fugitivos

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Há sons que não se perdem no tempo. Eles ecoam pelas ruas, atravessam salões de bailes e permanecem vivos na memória de quem dançou, sonhou e se apaixonou no ritmo da sua batida. Assim é o legado da banda “Os Fugitivos” – formada na década de 1960 em Santo Ângelo, na região noroeste do Rio Grande do Sul. Neste domingo, 13 de julho, quando o mundo celebrou o Dia Mundial do Rock, a história do grupo ganha ainda mais sentido: são mais de cinco décadas levando o rock gaúcho adiante, com coragem, criatividade e a força de quem acredita na música como trilha de encontros.

A história da banda teve início em 1966, quando cinco adolescentes do Colégio Santo Ângelo — João Alberto Ghisleni (Beto), Paulo Roberto Tissot, Cláudio Kath, Jorge Luiz Burtett e Enir Straliotto — inspirados por uma série de TV chamada “Os Fugitivos”, decidiram montar uma banda. O início foi tímido e cheio de incertezas, tanto que Cláudio deixou o grupo. Mas o entusiasmo juvenil fez com que, em pouco tempo, os integrantes estivessem entre os nomes mais promissores da cidade.

A partir de 1967, Os Fugitivos conquistaram espaço na cena da Jovem Guarda, com participações frequentes em festivais e bailes na região. Após a saída de Paulo Tissot, o grupo ganhou novo fôlego com a entrada de José Alfredo Fonseca, chamado de “Zéka”, premiado como “Canário de Ouro” pela TV Gaúcha. Em 1971 a banda respirou ares internacionais, quando venceu o “Festival de Música  Beat”, em Possadas, na Argentina, com a canção Aquarius / Let The Sunshine In, de Johnny Mathis. A conquista internacional marcou uma nova fase, reforçada pela chegada do guitarrista Anibaldo Rohenkohl, que trouxe ao grupo o som potente e distorcido que a década exigia.

Em meio a agendas lotadas e plateias calorosas, o repertório da banda era composto majoritariamente por covers de canções internacionais, aprendidas “de ouvido”, por tentativa e erro durante os ensaios. Questionado pela reportagem sobre sua música favorita, o tecladista, vocalista e Engenheiro Civil, Jorge Luis Burttet, 72 anos, não hesita: “Hey Jude”, dos Beatles. “Fizemos parte da mudança e fomos nos adaptando à história. Com o tempo, passamos a tocar muito Beatles — então minha música favorita é Hey Jude”, comenta o músico.

 Santa Maria

No final de 1971, Os Fugitivos tomaram uma decisão que mudaria os rumos da banda: transferiram-se para Santa Maria em busca de novas oportunidades. A mudança representou não apenas um deslocamento geográfico, mas um salto simbólico rumo à profissionalização, com os integrantes ingressando em cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na nova cidade, dividiram palcos com nomes consagrados, como “Os Mutantes” — com quem se apresentaram e receberam elogios de Rita Lee.

A vida no coração do Estado era intensa: moravam juntos em um sobrado na Rua Coronel Niederauer, onde conciliavam ensaios, estudos e o cotidiano de jovens em formação. – Eu devo parte do meu sucesso profissional aos aprendizados no meu tempo de banda. Com Os Fugitivos aprendi a determinar um objetivo, respeitar todas as pessoas e trabalhar com diferentes públicos – relembrou o músico e Engenheiro Agrônomo, Ildo Pedro Mengarda, 69 anos, natural de Tucunduva, um dos fundadores da banda “Os Reais”.

Em 1974, a entrada do trompetista e percussionista Denis Kissner Ferreira, conhecido como “Peninha”, garante mais versatilidade às apresentações, permitindo que transitem com facilidade entre bailes populares e repertórios sofisticados. Peninha também morou por muito anos em Tucunduva, onde tocou por muitos anos na banda Reny e Grupo Hello. Outro tucunduvense, o tecladista Paulinho Jeziorski ( já falecido), também fez parte da banda.

A trajetória seguiu marcada por trocas na formação e qualidade musical crescente, culminando, em 1976, com a turnê ao lado da lendária banda Os Incríveis, em 17 bailes pelo Brasil — fase em que Here Comes The Sun, dos Beatles, se tornou símbolo do grupo.  No entanto, apesar do sucesso, em 1982, já formados em suas respectivas áreas, os integrantes decidiram encerrar as atividades. Mas o silêncio seria apenas temporário. Neste período a banda animou vários bailes no Clube Comercial de Tucunduva.

O retorno de um sonho

Vinte anos depois, em 2002, o jornalista João Batista Santos provocou o reencontro. No palco do Bar Arena, em Santo Ângelo, Os Fugitivos se reencontraram com sua história e com seu público. O sucesso foi tão grande que o reencontro virou tradição: 26 edições até 2025, com shows anuais, reencontros emocionantes e um CD gravado em estúdio próprio, em Santa Maria, eternizando as canções mais queridas.

Em 2022, uma despedida: Luiz e Isa Martins, casal icônico da formação mais recente, deixaram a banda após décadas de dedicação. No lugar de Luiz, entrou Dorva Saibel, baixista e vocalista de Piçarras (SC), que manteve viva a chama do grupo. A formação atual da banda conta com a participação dos seguintes integrantes: José Alfredo Fonseca, 72 anos, voz e violão; Ildo Pedro Mengarda, 69 anos, voz e guitarra; Beto Ghisleni, 75 anos, bateria e vocal; Jorge Luis Burttet, 72 anos; Enir João Straliotto, 73 anos, voz e violão; Anibaldo Rohenkohl, 71 anos, guitarrista e vocal; Denis Kissner Ferreira, 70 anos, vocal e percussão e Dorva Seibel, 59 anos, contrabaixo e vocal.

Atualmente, Os Fugitivos não cobram cachê, tocam por amor. Com a maioria dos integrantes morando em outros Estados e, até mesmo, em outro país, eles viajam milhares de quilômetros para atender o chamado da música, como se o tempo tivesse feito apenas uma pausa há duas décadas atrás. Eles se apresentam em eventos beneficentes, recebem alimentação, estadia e carinho de uma plateia que os vê como algo maior do que uma simples banda, mas um elo entre gerações. – O reencontro dos fugitivos não são só músicas, são a fraternidade de uma banda e a alegria de estarmos com as nossas famílias, vivendo a oportunidade de, como numa magia, voltar no tempo. – comentou o músico e Professor de Educação Física, Beto Ghisleni, 75 anos.

O rock envelhece?

O rock surgiu nos Estados Unidos entre o final da década de 1940 e o início da década de 1950, com raízes em estilos musicais como o blues, o rhythm and blues e o country. Desde então, tornou-se trilha sonora de gerações que buscavam liberdade, rebeldia e identidade. Mesmo com as transformações tecnológicas e estéticas ao longo das décadas, suas guitarras distorcidas, batidas marcantes e letras intensas continuam a emocionar públicos de todas as idades. De Elvis Presley à Rita Lee, dos Beatles à Legião Urbana, o rock soube se reinventar sem perder sua essência. Por isso, envelhecem os músicos, amadurecem os fãs, mas o rock continua vibrando, jovem, nos palcos, nas memórias e nos reencontros como o dos Fugitivos.

*Reprodução de texto publicado no domingo, 13 de julho pelo Jornal Diário de Santa Maria. As informações sobre Tucunduva são do Jornal Sentinela.

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