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Ex-detento do RS é selecionado para bolsa internacional: ‘estou realizando um sonho’

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Natural de Porto Alegre, o reciclador e palestrante Rodrigo Sabiah ganhou uma bolsa do programa Global Freedom Fellowship, iniciativa da Incarceration Nations Network, que busca capacitar agentes de mudança social e combater o estigma contra pessoas com passagem pelo sistema prisional. Rodrigo é o único brasileiro na lista de selecionados.

“Hoje eu estou realizando um sonho graças ao trabalho que desenvolvo”, afirma em entrevista ao g1.

Desde 2012, Sabiah, apelido de infância que adotou, dá palestras e fala sobre a sua história. Em 2017, passou a dar aulas de empreendedorismo e, em 2019, a atuar como educador social. Como líder social, diz que busca “que outras pessoas possam ter oportunidades também, para que outras pessoas consigam reconstruir a sua vida”.

“O crime não me deu nada, só me tirou, tirou o pouco de bem material que eu tinha, tirou a vida de amigos meus, quase tirou a minha vida, e tirou a minha liberdade. Foi trabalhando que eu consegui conquistar dignidade, respeito, admiração pelas pessoas”, afirma.

Além de Sabiah, 16 egressos do sistema prisional de outros 11 países foram admitidos no programa. Em março, os selecionados passarão 13 dias na Cidade do Cabo e em Johanesburgo, na África do Sul, quando compartilharão ideias e vivências sobre justiça social e os tempos vivenciados na prisão.

“Eu venho há muitos anos lutando, escrevendo projetos vinculados a egressos e buscando um espaço, não um espaço pra mim, mas espaço pra que a gente possa recuperar e salvar vidas, pra que eu não seja o único”, afirma Sabiah.

Bolsa internacional

A inscrição contou com carta de recomendação do Conselho Penitenciário, que o acompanha desde a sua saída do sistema prisional. De acordo com Liliane Terhorst, psicóloga da Superintendência dos Serviços Penitenciário (Susepe) e que escreveu a carta, Sabiah tem sido parceiro em iniciativas do Conselho desenvolvidas dentro dos estabelecimentos prisionais.

Ela destaca que, por já ter passado pelo sistema, tem uma “visão importante” pra conseguir atingir os apenados, bem como a “potência da fala” e “pensamento coletivo” desenvolvido. A psicóloga, que atua no sistema penitenciário, lembra a necessidade de se ofertar possibilidade a quem passou pelo sistema prisional.

“A pessoa precisa ter interesse e disposição, mas se a gente não ofertar espaço, geração de renda, profissionalização, incremento da escolarização, a gente acaba aquém do necessário”, diz Liliane.

Trajetória

Filho de mãe solo, empregada doméstica, Sabiah relata que conviveu com a violência desde a infância em uma comunidade pobre de Porto Alegre. Ver pessoas morrendo, conviver com o tráfico, violência policias, tudo isso era parte da rotina.

“Desde os meus 8 anos de idade, quando eu cheguei nessa comunidade, eu tive que me deparar com todos os tipos de violência que existem em todas as comunidades pobres que nós temos no Brasil e no mundo. […] Eu cresci vendo aquilo, até que com 16 anos eu me envolvi com o crime. Com 18 anos fui preso pela primeira vez, fiquei 20 das preso”, conta.

Ele diz que cresceu com a curiosidade de saber como era o presídio, uma vez que viu pais e irmãos de amigos serem presos.

“Aquilo fazia parte da minha rotina, mexia com o meu imaginário. Até que com 18 anos eu fui preso pela primeira vez e eu vi que não era o que falam. Com 23, fui preso pela segunda vez. Só que, diferente da primeira vez, eu fui preso por assalto à mão armada, e não fui pra ficar 20 dias, fiquei cinco anos: três anos em regime fechado e dois anos no regime semiaberto”, lembra.

Ainda na prisão, conta que começou a ler e, depois, começou a escrever e a fazer terapia. Quando saiu, foi trabalhar na reciclagem. Não era o que queria, lembra, “mas foi a oportunidade que apareceu”. Com o crescimento da iniciativa, criada em parceria com o irmão, que também passou pelo sistema prisional, começaram a dar oportunidade para outros.

Entre os trabalhos desenvolvidos por Sabiah está o Reciclando Vidas, que dá nome à palestra e ao projeto, no qual, a partir de parcerias, busca dar oportunidade de trabalho para jovens, dar qualificação para os ex-detentos.

“É um trabalho bem difícil, porque a sociedade não abre portas para essas pessoas, a sociedade não acredita nessas pessoas. […] A gente tem baixar guarda com relação a esse preconceito, porque, senão, as coisas vão continuar do mesmo jeito, são os nossos morrendo, são os mesmos caras indo pro presídio”, diz.

Durante a pandemia, o foco nos com os ex-detentos foi “adormecido” para dar lugar à arrecadação e doação em comunidades carentes de Porto Alegre. “Começamos a fazer o trabalho de entrega de cestas básicas, alimentos, roupas, vale gás.”

Sabiah no Encontro Nacional de Defensores Públicos em Porto Alegre. — Foto: Arquivo pessoal

Acompanhamento

O Departamento de Políticas Penais, que integra Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo do RS e também apoiou a inscrição de Sabiah, informou que incentiva a participação de ex-detentos do sistema prisional em cursos e oficinas “por entender que esta é uma forma de dar visibilidade e potencializar as vozes das pessoas que cumprem pena, fomentando o debate sobre a importância da inclusão social”.

Conforme o departamento, durante o cumprimento de pena, as pessoas privadas de liberdade são acompanhadas por equipe de servidores públicos, psicólogas e assistentes sociais. Ao retornarem ao convívio social, “se torna importante a realização da articulação em rede, umas vezes que muitos saem com seus vínculos sociais, comunitários e familiares fragilizados”.

Dentro do sistema prisional, Sabiah participou do projeto Multiplicadores de Cidadania para a Paz.

Fonte: G1

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