Mais uma vez este ano, o Compositor Danilo Fagundes, autor de vários hits gravados por bandas relevantes do sul do país, escreve uma homilia para ser utilizada em Missas Crioulas durante a Semana Farroupilha. Convém explicar que a Missa Crioula segue os ritos da cerimônia católica, mas utilizando termos característicos a cultura gaúcha. A Homilia é popularmente conhecida como “sermão”, uma parte da cerimônia religiosa onde o Padre fala sobre um assunto específico. Danilo conta que começou a compor as Homilias no ano de 2016, a pedido do Frei Leandro Defendi, que trabalhou na Paróquia de Horizontina e celebra este tipo de Missa. O compositor explica que utiliza o tema anual dos festejos farroupilhas do MTG como referência em suas homilias, sempre em forma de poesia rimada. Tudo começou em 2016, quando compôs “A Cavalgada da Paz”, baseada no tema daquele ano na Semana Farroupilha, a “República das carretas (180 anos da República Riograndense)”. O tema escolhido neste ano pelo MTG é “A Revolução de 1923” e a patrona a cantora Maria Luiza Benitez.
Já são 7 anos consecutivos que Danilo escreve Homilias. Este ano a sua obra tem o título de “Liberdade, Justiça e Fé”. Fica nítido no texto de Danilo, o cuidado com a pesquisa sobre o termo abordado, sem perder, no entanto, os ritos católicos que norteiam a cerimônia da Missa Crioula.
Veja abaixo a íntegra da Homilia deste ano e o texto declamado pelo próprio Danilo:
REVOLUÇÃO: Liberdade, Justiça e Fé
Autor: Danilo Fagundes – Tucunduva/RS
Tema dos Festejos Farroupilhas 2023 – “Centenário da Revolução de 1923”
Mais uma vez a história do povo Sul-Rio-Grandense
Relata lutas sangrentas envolvendo a nossa gente
A última guerra gaúcha de feudos coronelistas
A Revolução de 23, entre Borgistas e Assisistas.
De um lado os lenços brancos, também chamados Chimangos
Centralizavam o Poder à Mão de Ferro, Republicanos
Do outro, lenços vermelhos, Federalistas Maragatos
Se enfrentavam nas trincheiras em duros combates farrapos.
As leis eram escritas à mão de quem governava
Com tanto autoritarismo que o povo não aceitava
Perpetuando a violência com viés de repressão
Esta foi a gota d’agua pra deflagrar a Revolução.
A urna consagra a vitória com fraude eleitoral
E a oposição revoltou-se num pleito tão desigual
Cem anos já se passaram desde a última revolução
Direitos só são garantidos com a nova constituição.
As causas dessa peleja, nos “Tempos de 23”
São de interesses políticos, com fraude mais uma vez
Aquela disputa nas urnas passou do voto pras armas
Na sangrenta guerra civil que ceifou vidas e almas.
Eis que o povo gaúcho, muito além do imaginário
Guarda firme na memória os ideais revolucionários
Heróis que empunharam bandeiras na luta pela verdade
Pelos valores sagrados de Liberdade, igualdade e humanidade.
Bueno, são as razões que fazem um povo pelear
São lutas, talvez distintas, mas que podemos comparar
O mundo em que vivemos, há dois mil e tantos atrás
Conheceram outros heróis “divino ou militar”
Os povos andavam em guerras sem noção pra onde iam
Sem fé e sem esperança, à espera do Messias
Até que lá em Belém a Luz da Estrela Guia
Anunciara o Salvador, piazito da Santa Virgem Maria.
Jesus o Divino Tropeiro pregou de querência em querência
Levou a palavra santa nos galpões e nas estâncias
A lei, escrita por Deus, o Patrão Velho do céu
Tornara-se catecismo, doutrinando os infiéis.
Os tempos eram sombrios, mas com promessas de luz
E aquele Menino Santo nos deu a vida na cruz
Jesus foi o sinuelo, morreu para nos salvar
Cumpriu-se a profecia como um tratado de paz.
Também heróis combatentes na estância de Assis Brasil
No Pacto das Pedras Altas firmaram acordo varonil
Calou-se o Grito de Guerra do Bravo povo sulista
Mas que continuam peleando combatendo injustiças.
São muitas as semelhanças em diferentes memórias
Eternizando os feitos escritos em páginas de glórias
O centenário da história da Revolução de 23
E o Filho do Carpinteiro por tudo que ele nos fez…