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Alunos da Escola Antônio Barella desenvolvem Dicionário Comunitário de Língua Compartilhada

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A Escola Estadual de Ensino Médio Professor Antônio Barella, ao longo de sua história, sempre zelou pelo trabalho conjunto com a comunidade. Esta parceria tem gerado muitos frutos ao longo do tempo. Agora, apresenta mais um belo resultado nascido do gesto de lançar um olhar sobre o lugar em que a escola se insere: o “Dicionário Comunitário de Língua Compartilhada – Palavras e expressões de uso coloquial em região

de fronteira e colonização mista”, que será lançado no dia 16 de novembro, às 9h00, durante o evento em comemoração aos 60 anos da escola. O evento poderá ser acompanhado ao vivo pela página da escola no Facebook ( https://www.facebook.com/profile.php?id=100083111533141 )

A partir de um diálogo entre as professoras Adriane Bortoli, Margarida Welke e Ivanete Jurach, com a ex-aluna da Escola Antônio Barella e Doutoranda em Letras pela UFSM, Rejane Fiepke Carpenedo, surgiu a ideia de construir um Dicionário Comunitário de Língua Compartilhada. Rejane trouxe a sugestão a partir da sua experiência e conhecimentos adquiridos ao longo da sua formação e fez a ponte entre a Escola Pública e a Universidade.

Todo o processo de construção do Dicionário foi supervisionado e orientado pela Professora e Pesquisadora Doutora Verli Petri, da Universidade Federal de Santa Maria. A Prof. Dra. Verli Petri possui um vasto currículo e mais de 20 anos de pesquisa com Dicionários, sendo internacionalmente reconhecida pelo seu trabalho. O evento de Lançamento do Dicionário contará com a presença da Pesquisadora, que estará visitando Novo Machado e região pela primeira vez.

Novo Machado é um município constituído de características que interferem diretamente no aspecto linguístico dos seus habitantes: foi colonizado, a partir de 1918, por imigrantes alemães, italianos, russos e poloneses; e cada um destes grupos identitários zelava muito pela preservação da cultura de suas terras de origem, especialmente no que se refere às línguas. Além disso, Novo Machado faz divisa com a Argentina, o que resulta em um fluxo migratório constante e relações de convivência entre o português e espanhol.

Esse conjunto de fatores sócio-históricos reflete na língua falada pelo povo. Independente da própria origem étnica, praticamente todos na comunidade conhecem uma “oma” e uma “nona”, já comeram “polenta com fortaia”, pão com “chimia”, e um “reviro” feito na hora, e passam por aqueles dias em que se acorda sem “voia” pra nada. O projeto de construção do Dicionário Comunitário de Língua Compartilhada teve como objetivo instigar os alunos a identificarem quais são estas palavras, ausentes dos dicionários padrões de Língua Portuguesa, e reuni-las para compor um dicionário próprio. Foram compilados 199 verbetes que constituem o Dicionário.

Foram longos meses de trabalho e empenho de uma grande equipe até a finalização do livro. Participaram do projeto alunos voluntários do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. A primeira etapa consistia na realização de palestras e atividades com os alunos, no intuito de descontruir a ideia de que dicionários só podem ser escritos por lexicógrafos, bem como, possibilitar a compreensão de que há uma língua viva em circulação na comunidade que traz consigo um imenso valor histórico e linguístico.

Posteriormente iniciou o período de coleta das palavras, quando os alunos passaram a observar a língua falada no âmbito social e familiar e registrar as ocorrências das expressões com sentidos universalizados. Todas as ilustrações do Dicionário também foram feitas pelos próprios alunos. Outro momento que marcou os alunos participantes foi a visita à duas famílias residentes na zona rural da comunidade: na propriedade do casal Lori e Ari Hess acompanharam o longo processo de produção da “chimia de tacho”, semelhante ao famoso “melado”; e na casa da nona Ilda e do nono Bruno Freddi, com o auxilio da dona Ivone Rigon, os alunos aprenderam a fazer “polenta” e “fortaia”. Estes momentos de imersão cultural fizeram com que os alunos pudessem observar que a língua não é uma coisa abstrata, e sim o reflexo da realidade da vida.

Para a Profa. Dra. Verli Petri “a elaboração de um dicionário compartilhado abre um espaço de autoria para crianças e jovens na escola, preparando-os para a vida em sociedade, onde deverão trabalhar em equipe e defender o bem-estar da coletividade e a preservação da memória do povo e do patrimônio imaterial que é a língua falada por um dado grupo social.” Ela acrescenta ainda que “A UFSM cumpre seu papel de inserção no interior do estado do Rio Grande do Sul, atendendo às demandas da comunidade e o resultado é belíssimo. Vale a pena conferir!”

A transformação do Dicionário em livro impresso aconteceu graças ao apoio do Fundo Social Sicredi, que contemplou o projeto a partir de sua submissão ao edital da edição 2022. Foram impressos 160 exemplares que serão distribuídos aos alunos participantes, e bibliotecas escolares da região.

A obra conta também com um depoimento exclusivo do Professor Doutor Anatólio Gach, da Universidade Estatal de São Petersburgo – Rússia. O Dr. Anatólio nasceu em Novo Machado, em 1937, e foi quem levou a língua portuguesa do Brasil para a União Soviética e o Leste Europeu, tornando-se um dos maiores filólogos de língua portuguesa do mundo.

Espera-se que esta iniciativa possa instigar outras escolas a lançarem um olhar sobre os aspectos históricos e culturais que circundam a região em que estão inseridas. O Dicionário Comunitário de Língua Compartilhada se configura como uma contribuição para a memória histórica da comunidade, e o convite é para que esta obra seja conhecida e apreciada por leitores de todos os recantos.

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