O perito judicial Roberto Meza Niella, especialista em leitura labial e diretor de consultoria pericial, não tem dúvida de que o lateral Rafael Ramos usou a palavra “macaco” ao se dirigir a Edenilson no confronto entre Inter e Corinthians, no último sábado (14), pelo Brasileirão. A reportagem da Rádio Gaúcha enviou as imagens da transmissão da TV do jogo do momento em que Ramos fala com Edenilson. Após a análise, Meza Niella afirmou, em entrevista ao programa Timeline, ter certeza de que houve a injúria racial.
— Eles estão de frente para a câmera e é possível ler o posicionamento dos lábios do Ramos. Podemos identificar de forma tênue a frase que todo mundo está dizendo, que é a palavra “macaco”. E vem na sequência um palavrão que não fica muito claro na definição dos lábios dele. Temos que tomar esse cuidado, mas me parece que é “do caralho”. A frase completa seria “macaco do caralho” — sustentou Meza Niella, que foi o perito que analisou a denúncia do meia Gérson, do Flamengo, contra o Ramírez, do Bahia, em 2020.
A análise oficial, porém, só virá por meio do trabalho do Instituto Geral de Perícias (IGP). A delegada Ana Luiza Caruso, responsável pela 2ª DP de Porto Alegre, confia em pronta resposta do IGP a partir da entrega dos vídeos da transmissão da TV e das câmeras de segurança do Beira-Rio. Não há prazo para a conclusão da análise.
Em sua análise particular feita no caso, Meza Niella detalhou a forma como chegou à conclusão:
— Cada som da nossa fala tem características articulatórias e fonológicas muito particulares, o que permitem, dependendo da qualidade da imagem, identificar o que a pessoa diz naquele determinado momento. Tivemos acesso a todos eles e fizemos uma análise passo a passo, quadro por quadro, daqueles vídeos para poder determinar o que foi dito pelo jogador do Corinthians.
Meza Niella rechaçou qualquer possibilidade de Rafael Ramos ter dito a expressão “mano, caralho”, como sustentada pela defesa do jogador.
— No posicionamento dos lábios é completamente diferente. Não existe nenhuma possibilidade dele ter falado a palavra “mano”. Nos lábios dele são bem claros nos fonemas quando fala a palavra “macaco” — reiterou o perito, que disse que o fato de Ramos ter o sotaque português não causou uma dificuldade maior na análise deste caso.
— Essas variações linguísticas algumas vezes dificultam um pouco. Trata-se do português de Portugal e isso é avaliado nesse tipo de análise. Nesse caso, porém, não dificultou na análise — garantiu.
Fonte: Gaúcha ZH